Ken Scott: "Depois de ver esse filme, todos na plateia vão ligar para suas mães."

A paternidade é difícil. A maternidade é ainda mais difícil. Mas quão difícil é ser filho desses pais que passam por tantas dificuldades? O cineasta canadense Ken Scott dirige "Era Uma Vez uma Mãe", a adaptação cinematográfica do famoso romance de Roland Perez "Minha Mãe, Deus e Sylvie Vartan", uma daquelas histórias tão reais que parecem totalmente fantásticas. "O filme conta a história de uma mãe que se esforça ao máximo pelos filhos, mas que não é perfeita. Isso era algo que me interessava muito — não estou falando de uma mãe perfeita e corajosa, mas de uma mulher que pode acreditar que está fazendo a coisa certa, mas que às vezes comete erros. Por enquanto, posso dizer que aqueles que assistiram ao filme me disseram que, quando terminou, sentiram uma vontade louca de ligar para suas mães", diz Scott.

Roland Perez é um renomado advogado especializado em propriedade intelectual que decidiu ficcionalizar sua vida incomum. Ele nasceu com uma deformidade no pé que o impedia de andar. Sua mãe se recusou a aceitar o conselho dos médicos, que a incentivaram a usar próteses especiais. Convencida de que seu filho seria uma criança normal, ela finalmente encontrou um curandeiro que propôs uma terapia agressiva que lhe permitiria nivelar o tornozelo do menino e fazê-lo andar normalmente. Brigando com vizinhos, serviços sociais e sua própria família, essa mãe superprotetora lutou incansavelmente para garantir que seu filho tivesse uma vida normal, e conseguiu. "O que me interessava era mostrar o dilema moral que esta história apresenta. Os médicos não são os vilões. Os serviços sociais não são os vilões. Nem a mãe. Todos acham que estão fazendo a coisa certa, o que só aumenta o drama", diz Scott.

O filme não se debruça sobre a infância do menino, mas acompanha sua vida ao longo de cerca de 50 anos , desde o início das aulas de balé com o pé restaurado até o momento em que se torna pai de filhos adultos e vivencia a ingratidão filial em primeira mão, tendo se tornado um advogado famoso. "Adoro esses filmes em que vemos uma vida inteira resumida na tela. Foi um desafio porque eu não queria fazer uma obra episódica; queria que o espectador preenchesse as elipses com sua imaginação", diz o cineasta.

Outro tema do livro é o poder da arte para transformar a vida das pessoas. Perez aprendeu a ler graças às canções de Sylvie Vartan . "Estou completamente convencida do poder curativo da arte e de sua capacidade de inspirar as pessoas a ações extraordinárias. Música, literatura e filmes são bálsamos em nossas mãos que podem nos motivar a mudar o mundo", observa Scott.

O filme é estrelado por Sylvie Vartan como ela mesma, no que é quase sua estreia no cinema, ou pelo menos como uma personagem que é a força motriz por trás da ação. "Ela estava muito animada porque seu único arrependimento é não ter feito mais filmes. Seu agente não a informou sobre nenhuma das propostas que estava recebendo. Certa vez, ela encontrou o cineasta Jacques Demy em Nova York , e ele perguntou por que ela não havia aceitado sua oferta para estrelar 'Os Guarda-Chuvas do Amor'. Ela, boquiaberta, disse que não fazia ideia do que ele estava falando", diz Scott.

Claro, ele também teve acesso a músicas, livros e filmes que mudaram sua vida. No caso dele, ele é muito claro sobre isso: 'Star Wars'. "Nasci em 1970, então quando o filme estreou eu tinha sete anos, a idade perfeita para algo assim me deixar de queixo caído. Foi a primeira vez que um filme ficou comigo depois de terminar, que continuou a me influenciar por muito tempo e moldou toda a minha imaginação." Depois veio Spielberg com 'ET' e 'Os Caçadores da Arca Perdida'. Daí em diante, não houve como escapar; sua vida teve que ser ligada ao cinema.